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  • Foto do escritorCelice Gomes Carmo Oliveira Scóz

Big Brother da Sociedade Digital

Breve analogia sobre como a sociedade digital nos impõe uma participação nem sempre voluntária no Big Brother da era digital. Você abriria mão da sua privacidade e exporia sua vida íntima para que um desconhecido pudesse acessar? Dificilmente a resposta a essa pergunta seria sim, não é mesmo? Mas é isso que estamos fazendo atualmente na sociedade tecnológica e não estamos necessariamente tendo a completa percepção do que isso significa e das suas consequências.


Vamos falar de Big Brother?




Sorria, você está sendo monitorado. Sabia que você se inscreveu para participar do Big Brother da era digital e provavelmente não sabe disso? Estamos no meio da edição do Big Brother Brasil de 2020 e, a bem da verdade, se tem um conceito que o brasileiro entende bem é o Big Brother, salvo raras exceções.


Siga a linha: a primeira edição do Big Brother Brasil ocorreu em 2002 e de lá para cada já tivemos nada mais nada menos do que um total de 19 edições e estamos na 20ª. Então é provável que em um desses longos anos em algum momento você deve ter entrado em contato com a dinâmica básica do programa. Estou errada?


Segue um resumo para quem não nunca acompanhou: em suma, o Big Brother é basicamente um reality show que permite que se observe a vida de um grupo de pessoas pré-selecionadas e confinadas em um ambiente monitorado 24 horas por diversas câmeras. A dinâmica social atua e em razão dessa interação e de eventuais conflitos humanos se mantém a audiência, relacionada à curiosidade e até ao voyeurismo em acompanhar a vida alheia através dessa novela da vida real.


Desde a estreia em 2002, o Big Brother Brasil adquiriu não apenas fãs e entusiastas do formato, mas também grandes haters. Principalmente durante os primeiros anos de surgimento, quando ainda era novidade, difícil era ficar indiferente quando era esse o assunto debatido.



Sociedade de Transformação Digital ou Sociedade Digital?


Muito se fala que estamos vivendo em uma sociedade digital, ou tecnológica, como preferirem. Porém, há quem faça uma ressalva distinguindo a sociedade propriamente digital de uma sociedade denominada “de transformação digital”, que seria, em resumo, uma etapa de transição para se alcançar a sociedade digital em sua plenitude.


Nesse sentido, a passagem de uma sociedade analógica, offline, para a digital, seria exatamente esse período em que estamos vivendo atualmente. Na sociedade de transformação digital, que tende a ser transitória, visa transformar tudo que é analógico para digital.


Já na sociedade digital, que é para onde estamos caminhando rapidamente, a concepção é a de que seja absolutamente tudo realizado no mundo digital. Para esse fenômeno, cunhou-se o termo dataísmo, pois os dados serão o bem mais precioso. No dataísmo, a sociedade de dados terá novas configurações de relações humanas e novos modelos de negócio, baseado em dados. Daí se fala em análise de dados mediante Big Data, em Blockchain e Criptomoedas, etc.


Mas independente do termo que se queira usar, sociedade de transformação digital ou sociedade digital (mesmo que ainda não implementada na sua máxima potência), o fato é que a Revolução 4.0 já é uma realidade – se você não leu ainda sobre a revolução digital, clica aqui e depois volte para cá.



Exposição da própria privacidade é um problema?


Como era de se esperar, nas primeiras edições do Big Brother Brasil, a crítica era grande a quem estava expondo toda sua intimidade em um programa como aquele. Esse formato de entretenimento era novidade e demorou um tempo até ser assimilado.


Hoje em dia, que já estamos da 20ª edição, não se vê mais por aí tanto esse debate sobre a exposição da intimidade dos participantes, talvez porque já estejamos mais acostumados com isso, vide o aumento significativo das redes sociais e naturalização em expor a vida privada pela internet.


Mesmo com a popularização das redes sociais, ainda há uma forte ilusão de controle da nossa própria privacidade online. Mas, na verdade, hoje mesmo já não é mais possível controlar tudo muitas vezes como se gostaria. E isso vale mesmo que se opte pela restrição de acesso das redes sociais a apenas amigos e se tente manter discrição na exposição voluntária da sua vida no mundo digital.


Uma conta de instagram com acesso privado não significa que sua vida só estará de fato exposta para aquelas pessoas. Os prints de tela estão aí para provarem o contrário. E sempre há a possibilidade de se tirar foto ou gravar um vídeo de uma tela, seja de computador, de tablet ou celular.


Portanto, na atual sociedade digital, dificilmente somos completamente donos da nossa própria história. Uma pesquisa no Google do próprio nome pode revelar dados pessoais importantes e que não necessariamente foram disponibilizados de forma consciente ou voluntária por cada um de nós. E também não é tão fácil apagá-los do mundo digital, não é mesmo?


E nossos dados vão sendo diariamente coletados, nas mais diversas situações corriqueiras que a vida em sociedade nos impõe.



Mas o que seria esse tal de Big Brother da era digital?


Pois então, recordado o que vem a ser o Big Brother, é perfeitamente possível fazer uma analogia à sociedade da nova era digital.


A atual sociedade tecnológica está experienciando uma evolução no conceito de privacidade. O cyberespaço veio para ficar e somente agora estamos começando a perceber a necessidade de uma regulação efetiva. O mundo digital já é uma realidade, mas o direito não acompanhou a rapidez da revolução tecnológica.


Absolutamente todos nós deveríamos estar ao menos discutindo o assunto, sobre os limites do que se expõe na internet, sobre como preservar a intimidade da vida privada. Definitivamente isso tudo não deveria ser motivo de preocupação apenas para quem faz uso desenfreado da internet. Para quem tem filhos então, a preocupação deve ser ainda maior, como vimos no nosso post aqui no blog “A internet é segura para crianças?”.



Não se lembra de fazer a inscrição para participar?


Para quem não sabe como é o processo de inscrição para participar do Big Brother Brasil, explicamos: gravando um vídeo, enviando uma carta ou então sendo

eventualmente descoberto por um dos olheiros espalhados pelo território nacional.


Para quem não sabe como é o processo de inscrição para participar do Big Brother da era digital, explico também: basta, basicamente, viver e se relacionar dentro do padrão mínimo de normalidade atual, baseando-se na perspectiva do “homem médio”.


Ou seja: se você algum dia já se inscreveu para participar do Big Brother e não foi selecionado, para o Big Brother da era digital você nem precisa se dar ao trabalho, pois já está dentro.


Em resumo: se você se enquadra dentro da média do comportamento atual de um ser humano que vive na era digital, sinto informar: você nem assinou um contrato e já está participando. E talvez sequer percebeu as reais implicações disso tudo.


Como? Em rápidos exemplos: possuindo um celular, tendo uma conta em um banco, pesquisando online mediante computador ou celular, acessando sites, andando nas ruas, sendo cadastrado por algum banco de dados do governo, daquele cartão de crédito, daquela loja de crediário, etc. E tantas outras situações.


É como antecipado: basicamente vivendo e se relacionando na era digital.

E aí? Bem mais fácil do que se inscrever para o reality show, não é mesmo? Só que com maiores e mais abrangentes implicações.



Mas tem alguém mesmo te vigiando?


Sabe o tal do olho que tudo vê, que tudo enxerga e monitora? Pois então, nesse caso não é Deus nem o Big Boss. E talvez seja um pouco pior. Já leu nosso post sobre se o seu celular está escutando suas conversas? Dá só uma olhada aqui.


Te desafio a olhar pro lado e procurar as câmeras ao seu redor. Se você estiver em casa, certamente terá virada para si a câmera do próprio celular ou do computador no qual você está lendo esse post. Se você estiver na rua, pode procurar por câmeras de vigilância, públicas ou privadas. Não consegue achar? Não significa que não existam, não se engane. Continua não achando? E os satélites de supervisão ali, orbitando acima de nossas cabeças? Nunca ouviu falar? Pois existem (pode clicar aqui, aqui ou aqui para aprender mais sobre o tema).


Estamos na era do capitalismo de supervisão. A professora da Harvard, Shoshana Zuboff cunhou esse tema para denominar uma espécie de capitalismo em que o poder se concentra nas mãos de empresas, tal como Google e Facebook, que operam em hiperescala, modulando comportamentos mediante extração de dados individuais (small data).


E hoje em dia o real poder está nos dados. Quem tem dados, tem tudo.



E agora: se proteger ou ignorar?


Diz o ditado que “ignorância é felicidade”. Nesse caso, pode até ser. Mas o conhecimento liberta.


Ignorar as implicações da sociedade digital não as farão deixarem de existir. Apenas facilitará a captura de dados por terceiros não necessariamente autorizados.


Essa discussão precisa ser feita. A consciência da realidade digital e suas implicações precisa existir para que possa ser debatida e, a depender, controlada ou coibida, a depender do caso.


Por fim, importante dizer que esse texto traz apenas uma discussão inicial, uma provocação para que possamos parar e pensar um pouco sobre o quão confortáveis devemos estar ou nos manter com todo esse monitoramento.


Aqui, diferente do Big Brother, ninguém sairá vencedor de 1 milhão ao final. Talvez as empresas que estão com nossos dados sairão com um valor muito mais alto do que isso. Não me parece muito vantajoso para quem é monitorado, não é? E para você? Como é isso tudo?


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